Tuesday, March 27, 2007

 

MOMENTO I
Peça de teatro

Nova Orleães, um crime, a procura de um assassino. Três plataformas que se agitam de acordo com a necessidades dos actores. Luzes suaves e vestidos vintage.
Não há palco, há um espaço central e entre os públicos opõem-se olhares. Não sei se desta vez decidirei roubar a vida dos outros, hoje não me apetece debruçar em rostos, olhares e pensamentos alheios.
Doris, Charles, Gary, Olga, July...e uma criada que canta Summertimes.
Um candeeiro com cristais que pouco reluzem no abajou.
Acedem-se e apagam-se luzes, geram-se contrastes no nada que não é novo.
“Na imensidão do Mississipi esconde-se uma vastidão de segredos”
Ida ao médico…sonhos horríveis, recordações de uma dama de olhos fechados, gargalhadas e dos tempos de Bolshoi. Termina a dança e há quem tenha culpa por ter prazer…
Duas almofadas e um espelho, a bailarina embriagada canta ”a vida é um carrossel e um amor um folha ao vento”…

MOMENTO II
Definição de Beijo: Devolução, recriação e criação da sensação produto do processo interior gerado pelo comportamento afável ou ternurento de outrem.

MOMENTO III

Voltei a roubar vidas, fotografei um menino peruano que sorria enquanto jantava.

MOMENTO IV

Noite fria, uma noite pertencente a um dia ao qual impuseram mais uma hora…e um pouco mais de tempo que derruba a imprevisibilidade aparentemente balizada em 24 horas…
Uma mesa para quatro lugares… uma mesa de pedra cinzenta, fria e rugosa à palma da minha mão.... pequenos cristais parecem pedras de gelo que brilham no meio de um cinzento implacável e mudo…parece que por vezes os estilhaços ganham beleza.
As folhas de papel tentam cerrar com a ajuda do vento o que escrevo. Talvez me devesse mesmo vedar às palavras, mas olhar para páginas em branco e nada escrever é como que partir em forma de abandono.
Tenho as mãos muito frias mas tento como que docemente que estas linhas impregnem o papel…e lembro-me de muita coisa. Precisava de falar, de dizer coisas, de ouvir coisas…as coisas de noites de luz suave e laranja, de cadeiras castanhas, despojadas e genuínas ao sentar…lugares com cheiro a poesia…
Reparo que nunca faço pontos finais…e nas minhas reticências dou conta que o silêncio é uma das melhores armas para a prisão. O silêncio e a maior fonte de hipóteses, sugestões, ideias, incertezas, devaneios… como que construissemos um segredo que nos pertence.
A ouvir: Sigur Rós: Ný Batterí
Como alguem clepsidrico diria, Sigurós e Agarrarós;)

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