Monday, November 06, 2006
E mais uma vez relembrando...
“A luz irrompe em lugares estranhos, nos espíritos do pensamento onde o seu aroma paira sob a chuva; quando a lógica morre, o segredo da terra cresce em cada olhar e o sangue precipita-se ao sol”
Excerto de “A Luz irrompe onde nenhum sol brilha”
In “A Mão ao assinar este papel” de Dylan Thomas
(…) É impossível saber quando cairá o crepúsculo, impossível enumerar todos os casos em que o consolo se fará necessário. A vida não é um problema que pode resolver-se dividindo a luz pela escuridão ou os dias pelas noites, mas sim uma viagem imprevisível entre lugares que não existem. (…)
(…)“ Decido encher todas as minhas páginas em branco com as mais belas combinações de palavras que seja capaz de engendrar. E depois, porque quero assegurar-me que a vida não é absurda e não me encontro só sobre terra, reúno-as todas num livro e ofereço-o ao mundo. Este, retribui-me com a riqueza, a glória e o silêncio. (…)
Faça o que fizer, poderia muito bem fazer outra coisa. Não é isso que importa. Importa é saber-se livre como qualquer outro elemento da criação. Importa é saber-se um fim autónomo, que repousa em si mesmo como uma pedra sobre a areia (…)
(…) Mas onde está hoje a floresta na qual o ser humano prove de que pode viver livre, e não limitado pelos rígidos moldes da sociedade? Sou obrigado a responder: em parte alguma. Se desejo ser livre, é por enquanto necessário que o faça no interior desses moldes. Sei que o mundo é mais forte do que eu. E para resistir ao seu poder só me tenho a mim. O que já não é pouco. Se o número não me esmagar, sou, também eu, um poder. E enquanto me for possível empurrar as palavras contra a força do mundo, esse poder será tremendo, pois quem constrói prisões expressa-se sempre pior do quem se bate pela liberdade. E no dia em que só o silêncio me restar como defesa, então será ilimitado, pois gume algum pode fender o silêncio vivo. Este é o meu único consolo. Sei que as recaídas no desespero serão profundas e numerosos, mas a lembrança do milagre da libertação leva-me como uma asa a um fim que me inebria: um consolo que seja mais do que apenas isso, e mais vasto que uma filosofia: que seja, enfim uma razão de viver.”
IN
“A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer”
Stig Dagerman
A ouvir: dEUS- “Serpentine”